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Textos Avulsos

sexta-feira, 30 de julho de 2004

Eu x Eu

Round II
Camisa branca é melhor por causa do sol, né?
É. Mas peraí, tu vai com essa bermuda velha?
Que é que tem? É um churrasco. E essa bermuda é tão confortável.
Mas tu fica mais bonita de saia.
Mas aí tem que se preocupar com as brechas...
Tão difícil pra uma engenheira ficar de pernas cruzadas né?
Difícil num é não.
Aposto como ele vai olhar pra ti diferente te vendo de saia.
Então a camisa branca e a saia preta?

quinta-feira, 29 de julho de 2004

Eu x Eu

Uma guerra de cinco rounds entre meus dois Eu...

Round I
É pra cá ou pra lá?
Pra cá criatura. E anda logo com isso que eu tô com fome.
Peraí que eu vou conseguir... Eu desisto! Consigo não! Tá muito apertado!
Lógico que consegue. Se alguém apertou, então dá pra afrouxar.
Sim, só que esse alguém que apertou tinha força... e eu não.
É só usar a sua inteligência. E a ferramenta correta.
Ei, tu aí que tá só olhando a briga de fora... Abre pra mim?
Tu é muito mulherzinha mesmo... Isso é ferramenta que se use?
Não deixa de ser uma ferramenta.

segunda-feira, 26 de julho de 2004

Esperei um segundo mais

Demorei mais de duas horas procurando o melhor posicionamento para o ataque. O tiro teria que ser único. A arma em punho. A mira regulada. O olho esquerdo fechado. O direito olhando pela mira. No segundo que antecede a pressão colocada pelo dedo no gatilho, um cachorro passa na frente do alvo. Esperei um segundo mais por lembrar de você dizendo: Espere e ele se mostrará por completo à sua frente.

Ontem EU VI o tal brilho no canto do olho.
Hoje eu acordei e ESCUTEI o tal brilho.

Me aguarde!

quarta-feira, 21 de julho de 2004

Pois foi.

Andava eu pelas ruas nas horas de folga procurando. Olhava as vitrines e nada. Nem sabia se existia. Mesmo assim procurava. Semana passada achei. Estava na vitrine de uma pequena loja. Apaixonei-me. Como assim apaixonou-se? Pois foi. E nem sabia se era tão assim como imaginava.
 
Olhei pros lados pra me certificar de que ninguém estava olhando e me aproximei. Uma moça, até bem simpática, se dirigiu a mim e perguntou se podia ajudar. Apenas sorri. Ela não entenderia.
 
Depois de um longo silêncio disse que gostaria de experimentar aquele da vitrine. O que tinha as luzes apontando pra ele. A moça simpática foi lá. Ela realmente não tinha entendido.
 
Fui embora o mais rápido que pude dizendo apenas um singelo tchau pro rapaz magrinho que ficava na porta. Como assim foi embora? Pois foi. E nem soube se era tão assim como imaginava.

segunda-feira, 19 de julho de 2004

no canto do olho

Naquele tempo ainda era tudo muito recente. Ainda não entendia como. Nem porque. O céu estava escuro já há três semanas. As lágrimas ainda rolavam pelo meu rosto e molhavam teu ombro. Você me disse num sussurro, quase não acreditando: Tu ainda vai ver o brilho da felicidade de novo menina. Ele primeiro vai aparecer no canto do olho. Não vire muito rápido, ele pode sumir. Espere e ele se mostrará por completo à sua frente.
Ontem EU VI o tal brilho no canto do olho.
Me aguarde!

sábado, 17 de julho de 2004

198 + 198

São apenas trezentos e noventa e seis passos. Ida e volta. Medidos por mim que tenho pernas curtas. E tortas. São duas ruas para atravessar. Tem que esperar e sinal de pedestres ficar verde. Minha avó dizia Quando aquele homenzinho vermelho no poste ficar verde você atravessa. E não corra!
 
Enquanto espero o homenzinho do poste ficar verde eu converso com um aleijado que pede dinheiro naquele sinal. Ele me contou que se chama Eduardo. Ele tem duas filhas que se chamam Sara e Nadine, e a sua esposa é faxineira. Ele perdeu as pernas quando foi atropelado por um bêbado numa terça-feira às sete e meia da manhã, naquele mesmo cruzamento.O bêbado morreu quando o seu carro subiu a calçada e bateu no muro. Eduardo perdeu o seu emprego de pedreiro.
 
Na segunda esquina tem um guarda que sempre ri de mim. Um dia eu pergunto o que ele acha tão engraçado em mim. Talvez meus óculos. Talvez minhas roupas. Talvez o meu caminhar. As pessoas me acham estranho eu sei. Não entendo é porque as pessoas riem do que acham estranho.
 
Consigo cantar o hino brasileiro completo no caminho. Às vezes esqueço uma parte. Aí eu paro, olho pro alto para evitar a distração da rua, me lembro e volto a andar. Não gosto de andar sem estar cantando. Meus pés doem se caminho calado ou pensando em problemas.
 
Depois de cento e noventa e oito passos eu paro em frente a banca. Bom dia Marilene. Eu gostaria de comprar a nova revista do ?Colher, O homem Côncavo e Convexo!?... Muito obrigado.
 
Agora são mais cento e noventa e oito passos de volta.

terça-feira, 13 de julho de 2004

É pra tu mesmo!

Num tinha nada pra fazer e resolveu me pertubar, né? Da última vez eu já havia dito: Vai procurar louça pra lavar! Vai arrumar alguém pra amar! Mas não. Prefere me pertubar. Fica por aí então estúpido!

sábado, 10 de julho de 2004

Insônia

O relógio marca 4:23h. O travesseiro ainda tem o cheiro do teu suor. Faz tanto tempo. O lençol jogado ao pé da cama ignora minha solidão. A luz da sala está acessa. Me arrasto até o banheiro e lavo o rosto, sem conseguir me olhar no espelho. Não quero olhar e ver meus olhos buscando os teus. O sabonete escorrega entre meus dedos. Preciso me alimentar. Preciso dormir.

Na sala a luz acessa, a janela aberta e a televisão ligada. Na tela da televisão só aquele monte de formigas caminhando desordenadamente (quando a programação acaba é isso que eu vejo). A chave está na porta. O chaveiro de coração balançando com o vento que entra pela janela junto com a chuva. Há duas semanas que não vejo o sol. Nem a lua.

Ando por toda a sala sem saber onde ficar. A luz me irrita, me assusta. Apago a luz. Desligo a televisão. Adeus formigas. O poste da rua em frente ainda me mostra que a sala está vazia. A casa está vazia. Um cigarro dança entre meus dedos enquanto procuro um isqueiro. Tem um no fogão. Aproveito para pegar mais um copo de água. Na geladeira uma maçã me lembra. Preciso lembrar. Preciso me alimentar.

Na mesa ainda os pratos do jantar. Macarrão com ervas. Faz tanto tempo. As taças de vinho na mesa são testemunhas de que eu não fui covarde. Duas taças ainda cheias. Um brinde feito na hora errada. O espanto em seu rosto. Talvez com as palavras erradas. Seus passos em direção a porta. Para a pessoa errada. O som da porta batendo levemente. O silêncio. A sala vazia. A casa vazia. E eu dentro dela. Na varanda a rede balançando me lembra. Preciso lembrar. Preciso dormir.

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Eu e a Tristeza

Tranquei a porta como nunca antes tinha feito. Três voltas na chave superior, quatro voltas na chave inferior. Deixei a chave na mesa. Tirei os sapatos. As meias eu coloquei dentro dos sapatos. Tirei a camisa e joguei na cama. Tirei a calça e pendurei na porta do armário. Vesti uma camiseta branca e um short azul. A roupa que eu uso para dormir. Eu queria dormir.

Nem cheguei a deitar na cama. A tristeza teimava em me fazer companhia. Olhava por sobre o meu ombro querendo saber o que eu estava fazendo. Fechei a porta do quarto para tentar me esconder. Não tinha ninguém na casa. Só eu e a tristeza. Ela atrás de mim.

Sentei no chão, perto da cama. Pernas cruzadas. Costas eretas. Mãos sobre os joelhos. Como a professora do primário mandava ficar enquanto esperávamos o lanche. Queria me sentir como criança novamente. Queria esperar que a professora trouxesse o lanche. Queria ir brincar na rua com outras crianças. Queria subir em árvores.

Balancei o corpo para frente e esperei ele voltar. Balancei de novo, desta vez pro lado. Fiquei assim por muito tempo. De olhos fechados, me balançando. A tristeza me acompanhava. Balançava também. Sempre próxima. Próxima demais. Sempre atrás de mim. Nunca me encarando de frente.

Acredito que caí enquanto me balançava. Acordei no chão do quarto. As pernas encolhidas perto do peito. Os braços embaixo da cabeça. Estava tudo escuro e desfocado. O telefone, o interfone e o celular tocavam. A tristeza olhava pra mim. Ela estava na minha frente. Olhando nos meus olhos. Esperando.

Levantei. Tirei o telefone e o interfone da tomada. Desliguei o celular. Joguei a chave da porta pela janela. Seria só eu e a tristeza. Ela agora olhava pra mim. Agora eu podia enfrentá-la. Eu podia ganhar... Eu poderia ter ganho.

Talvez da próxima vez...

terça-feira, 6 de julho de 2004

Eu ou ele?

Cara ou coroa? Cara. Branco ou Preto? Branco. Grande ou pequeno? Pequeno. Dia ou noite? Noite. Sol ou chuva? Sol. Seco ou molhado? Seco. Direita ou esquerda? Esquerda. Primeiro ou último? Último. Carta ou E-mail? Carta. Riso ou choro? Riso. Só ou acompanhada? Acompanhada. Vôlei ou futebol? Futebol. Claro ou escuro? Claro. Verdade ou mentira? Verdade. Eu ou ele? ...