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Textos Avulsos

sábado, 10 de julho de 2004

Insônia

O relógio marca 4:23h. O travesseiro ainda tem o cheiro do teu suor. Faz tanto tempo. O lençol jogado ao pé da cama ignora minha solidão. A luz da sala está acessa. Me arrasto até o banheiro e lavo o rosto, sem conseguir me olhar no espelho. Não quero olhar e ver meus olhos buscando os teus. O sabonete escorrega entre meus dedos. Preciso me alimentar. Preciso dormir.

Na sala a luz acessa, a janela aberta e a televisão ligada. Na tela da televisão só aquele monte de formigas caminhando desordenadamente (quando a programação acaba é isso que eu vejo). A chave está na porta. O chaveiro de coração balançando com o vento que entra pela janela junto com a chuva. Há duas semanas que não vejo o sol. Nem a lua.

Ando por toda a sala sem saber onde ficar. A luz me irrita, me assusta. Apago a luz. Desligo a televisão. Adeus formigas. O poste da rua em frente ainda me mostra que a sala está vazia. A casa está vazia. Um cigarro dança entre meus dedos enquanto procuro um isqueiro. Tem um no fogão. Aproveito para pegar mais um copo de água. Na geladeira uma maçã me lembra. Preciso lembrar. Preciso me alimentar.

Na mesa ainda os pratos do jantar. Macarrão com ervas. Faz tanto tempo. As taças de vinho na mesa são testemunhas de que eu não fui covarde. Duas taças ainda cheias. Um brinde feito na hora errada. O espanto em seu rosto. Talvez com as palavras erradas. Seus passos em direção a porta. Para a pessoa errada. O som da porta batendo levemente. O silêncio. A sala vazia. A casa vazia. E eu dentro dela. Na varanda a rede balançando me lembra. Preciso lembrar. Preciso dormir.