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Textos Avulsos

sábado, 25 de setembro de 2004

fragmentos

eu sei o que queria
e agora nao quero mais

dois passos a frente
andando pra trás
.......................
quando você ouvir nunca mais
lembre de mim
parada
na porta do seu quarto

quando você sentir algo assim
pense em mim
sentada
no sofá azul da sala

sinto falta das frases sem sentido
do medo de não saber como viver
queria estar ao seu lado
e de todas aquelas certezas duvidosas

nós dois no meio da rua sem chave
a porta aberta e nada a fazer
queria morrer de rir de novo
e ter todas aquelas crises de ciúmes
......................

quinta-feira, 23 de setembro de 2004

Esperar até...

eu aprender a escrever...
eu aprender a ler...
eu terminar a faculdade...
eu voltar à faculdade...
eu perder 5 quilos...
eu adotar um cachorro...
você dizer que me ama...
eu me casar...
ter filhos...
meus filhos saírem de casa...
eu me divorciar...
a sexta à noite chegar...
o sol da segunda amanhecer...
eu comprar um carro ou uma casa nova...
o próximo verão, outono ou inverno chegar...
a minha música tocar...
este cigarro acabar...
eu terminar este drinque...
que eu esteja sóbria de novo...
que eu me aposente...
que você morra...
que eu morra.

Peraí!!! Quando é que eu paro de esperar? Porque eu tenho que esperar?
Entre uma espera e outra eu posso viver? Ser feliz? Obrigada.

domingo, 19 de setembro de 2004

Conversa de madrugada...

E agora?
Agora o quê?
Pronto? É só isso?
O que tu chama de "só isso"?
A gente tá aqui e.. e morre e... e pronto? Acaba?
Peraí criatura. E esse tempo em que "a gente tá aqui"?
Sim. Que é que tem?
Tu num faz nada até essa hora da "morte e pronto e acaba"?
Tu tem razão... eu aqui falando "e agora?" mas tô pensando no depois né?
Exato. Tu tem que pensar como tu vai fazer pra viver. Pra usar o tempo que existe antes da morte. Depois da morte não te interessa mais.
Não interessa mais? Como assim? Tu tá dizendo que não tem nada depois da morte.
Aqui não. Ou tu anda vendo o povo que morreu trabalhando, indo a praia ou dançando por aí?
Não.
Ainda bem. Não tá tão ruim então.
Tá curtindo comigo?
Presta atenção. Quando você morrer, isso aqui que a gente conhece e se lembra não vai mais importar pra ti. Não interessa se teus amigos e tua família vão ficar chorando. Não tem mais nada a ver com você.
Não?
Não. Eles vão estar chorando pelo que você foi enquanto vivo. Pelo que você fez antes de morrer.
E depois que eu morrer?
Pouco importa pra quem estiver ainda está vivo. E isso aqui pouco vai importar pra ti.
É né?
Vai vivendo tua vida aí e conquistando teu espaço aqui que é isso que vai ficar de lembrança aqui quando tu morrer. Se existe algo mais depois que a gente morre eu não tenho como te responder, mas que ainda tem muita coisa pra ti antes de tu morrer, isso tu pode ter certeza.

quarta-feira, 8 de setembro de 2004

Round IV

Caramba! Olha o tamanho daquela barata ali!
Ahhh não! Barata aqui em casa? Mata ela!
Matar? Isso não vai resolver o problema. Ela não é uma eremita.
Ela num é o quê? Esquece. Ei tu aí... mata pra mim?
Tu é muito mulherzinha mesmo... E o nome dessa ferramenta é chinela?
(PÁ!)
Não é chinela mas mata as baratas. Agora tu pode explicar o que diabos é eremita?
Eu explico, mas antes vai varrer a barata. E não esquece de colocar veneno.

quinta-feira, 2 de setembro de 2004

Falado. Ouvido.

As inúmeras conversas com o velho de muletas à sombra da grande árvore guiavam seus pensamentos por um caminho estreito e tortuoso. Confiava no velho. Apesar da perna manca e rosto marcado, tinha o olhar manso. Seu jeito de falar escondendo as palavras entre os dentes irritava quem não o conhecia. Aprendeu a procurar as respostas naqueles olhos cansados e sorriso sincero.

Conversavam em silêncio. Falado. Ouvido.

Qualquer um

Calça jeans surrada e camiseta branca justa ao corpo. Um tênis verde confortável de tanto ser usado. Mochila azul cheia de bolsos e segredos pendurada no ombro esquerdo. Óculos escuros. Brincos prateados com um pequeno brilhante pendurado. Um anel na mão direita. Parada na calçada parecia imune ao mundo. O corpo aberto ao acaso e o sorriso gratuito a todos. O sol iluminava a alegria que transparecia no olhar.

Esperava a sua vez. Imóvel. Atenta.

Mais um

Ajeitou os fios de cabelo que o vento jogara no seu rosto. O olhar se demorou na cena do outro lado da rua com a curiosidade de uma criança. Havia alguém conversando com o velho de muletas. Um rapaz. Era jovem. Cabelo longo, pele morena e corpo esguio. Tinha os olhos ansiosos, preocupados. Os braços se movimentavam agitados no ar.

Quase se apaixonou. Dois passos à frente. Distraída.