O que sobra das sobras
A luz e o calor invadem meu quarto. Não tenho permissão para ficar. Como uma música chata o sol avisa que o dia será árduo e que não haverá ninguém para conversar no longo caminho.
A água sai gelada do curto cano onde antes havia um chuveiro. Próxima demais da parede para ter raiva lavo meu corpo desejando que pelo ralo desça toda minha frustação.
A onda quebra no mar e eu não estou lá. A chuva beija uma linda flor e eu não estou lá. A criança brinca com seu dedão do pé e eu não estou lá.
Pela janela do quarto ouço um trabalhador da construção civil martelando um prego numa chapa de metal. Este som intermitente me lembra ter tido namorado convicto de que consertos domésticos, como consertar a pia do banheiro ou trocar uma fechadura quebrada, deviam ser feitos por ele entre o domingo e a segunda-feira, de madrugada.
Visto um camisa e uma calça mecanicamente, com os olhos fixos na infiltração que sobe atrás da cama. A tinta descascada me envergonha mais que a sala sem cadeiras ou a cozinha sem geladeira.
Não tranco a porta de casa para ter certeza de que voltarei. O elevador está quebrado a muito então desço os degraus contando as lajotas rachadas. Uma vizinha idosa e cansada me diz "bom dia" pela grade do seu apartamento.
O asfalto está molhado e o cheiro da noite anterior ainda paira nas portas dos bares onde bêbados e prostitutas se deliciam com mais uma dose. O dia não começou para eles, ou diria que a noite ainda não terminou?
O calor não me alerta para a pequena poça d'água na sarjeta onde um bêbado achou sua cama, e um carro apressado não perdoa minha indecisão ante a vida. A água suja molha meu braço e o relógio, presente de natal de uma tia, que naquele segundo desiste de servir a algo.
E de tudo que foi vivido sobram as sobras do dia que nem começa e acaba. O dia termina no calor do sol, no banho gelado, no barulho do martelo, no asfalto molhado, no cheiro podre do bar, na sarjeta imunda, embaixo do ônibus que levaria ao longo caminho do árduo dia de segunda-feira.
A água sai gelada do curto cano onde antes havia um chuveiro. Próxima demais da parede para ter raiva lavo meu corpo desejando que pelo ralo desça toda minha frustação.
A onda quebra no mar e eu não estou lá. A chuva beija uma linda flor e eu não estou lá. A criança brinca com seu dedão do pé e eu não estou lá.
Pela janela do quarto ouço um trabalhador da construção civil martelando um prego numa chapa de metal. Este som intermitente me lembra ter tido namorado convicto de que consertos domésticos, como consertar a pia do banheiro ou trocar uma fechadura quebrada, deviam ser feitos por ele entre o domingo e a segunda-feira, de madrugada.
Visto um camisa e uma calça mecanicamente, com os olhos fixos na infiltração que sobe atrás da cama. A tinta descascada me envergonha mais que a sala sem cadeiras ou a cozinha sem geladeira.
Não tranco a porta de casa para ter certeza de que voltarei. O elevador está quebrado a muito então desço os degraus contando as lajotas rachadas. Uma vizinha idosa e cansada me diz "bom dia" pela grade do seu apartamento.
O asfalto está molhado e o cheiro da noite anterior ainda paira nas portas dos bares onde bêbados e prostitutas se deliciam com mais uma dose. O dia não começou para eles, ou diria que a noite ainda não terminou?
O calor não me alerta para a pequena poça d'água na sarjeta onde um bêbado achou sua cama, e um carro apressado não perdoa minha indecisão ante a vida. A água suja molha meu braço e o relógio, presente de natal de uma tia, que naquele segundo desiste de servir a algo.
E de tudo que foi vivido sobram as sobras do dia que nem começa e acaba. O dia termina no calor do sol, no banho gelado, no barulho do martelo, no asfalto molhado, no cheiro podre do bar, na sarjeta imunda, embaixo do ônibus que levaria ao longo caminho do árduo dia de segunda-feira.
1 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
By TSchuck, at 10:22 PM
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