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Textos Avulsos

sexta-feira, 9 de abril de 2004

Roberto

Eu trabalho em um restaurante. Pego dois ônibus para chegar lá. Na hora de voltar pra casa preciso pegar um trem. Não há mais ônibus depois da novela. Eu assisto à novela junto à Ana. Ela almoça no restaurante onde trabalho. Todos os dias. Excetos sábados e domingos. Sábado eu volto de ônibus. Domingo eu escuto música. Não trabalho domingo. Não quero trabalhar domingo. Domingo eu penso. Domingo eu me vejo no pequeno espelho do banheiro. Domingo eu tomo um demorado banho. A dona da casa reclama. Eu moro em um quarto no quintal da casa da Dona Clara. Não preciso acordar a Dona Clara quando chego. Há uma passagem que termina na porta do meu quarto.

A Ana é minha amiga. Jantamos juntos e assistimos à novela juntos. Ela no sofá. Eu sentado em uma cadeira. Juntos. Ana não fala muito. Eu acho que entendo seu silêncio. Não sei se ela entende o que eu digo quando calo. Assustei-me quando criei coragem e pedi pra ir a casa dela depois do trabalho. Foi normal. Foi muito simples. Acho que demorei um mês pra pedir. Eu fui. Ela me recebeu. Jantamos. Eu levei o pão e o suco. Ela me disse que eu era surpreendente. Contei a ela algumas histórias engraçadas que acontecem no restaurante. Ela pensou melhor e disse que o ser humano é surpreendente. Eu sou apenas um ser humano. Eu sou um ser humano.

No restaurante almoça muita gente. O dono diz que poderia ser mais. Não entendo como. Sempre são as mesmas pessoas. Eles almoçam lá todo dia. Assim como a Ana. Exceto sábados e domingos. Eu me pergunto o que eles fazem sábados e domingos. Eu não trabalho domingos. Eu escuto música no domingo. Meu nome é Roberto. A Ana teima em me chamar de Beto. Ainda não me acostumei. Meu nome é Roberto.